quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O véio e o menino


E ocê vai ver, seu moço novo,
que a coisa mais triste do mundo,
quando a gente vai ficando
com mais primaveras vividas,
é que a gente perde
essa coisa tão boa
de se encantar
e que,
quando a gente, se encanta
mesmo depois de tantos encantos
é como se a gente quisesse ter
uma fome de vida
que num tem mais !
É gula!
Paixão, depois de um tempo, é gula de vida !

segunda-feira, 19 de novembro de 2012


Dá-me teu querer assombrado

desarma os botes

Fiquemos calados

Descança teu olhar trêmulo

em meu desejo ávido

Deixemos que caiam as folhas

atrasadas do outono passado

O tempo é ainda menino

correndo ansioso dos passos

Eu ouço a teu lado o apito

Acima dos trilhos sejamos alados

Dá-me tuas mãos ingênuas

para voarmos sobre as cidades

Vejamos juntos no horizonte marítimo

cada signo da linguagem

Deixa-me estar entre

o bemol e o sustenido

Do teu receio acalentado.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Busca

Quem conterá a nascente
dos vazios que me brotam
escondidos, escorrendo
pelas pedras medrosas
dos meus descaminhos

Quem iluminaria
minhas noites sombrias
com feixes reluzentes
de esperanças mesmo que vãs

Quem faria soar as cordas
ventar as saias
tocar a pele com a brisa
desaguar

Quem traria a calmaria
para ceiar em minha mesa
e se instalar como em vigília
ouvindo ternos acordes

Em que findaria a demanda
destas horas inférteis
de afeto devoluto
dos meus tacanhos dias

Quem me crucificaria
posto que morro e ressucito
pela redenção dos meus demônios





domingo, 4 de novembro de 2012

Fantasia

E como o mar em tempestade me alegro
no instante seguinte
calo