quinta-feira, 30 de julho de 2015

Maria Flor

Que doces são as lembranças
Inquilinas dos nossos dias
Por vezes barulhentas
Noutras tão amigáveis
E mesmo as que remetem
A sensações perdidas
Quão doce é quando nos batem à porta do agora
Hoje faz aniversário
A data da notícia mais feliz que já pude ter
O dia em que soube que ela me habitava
Ela, a outra inquilina
a pequena flor que transformou meus dias
Num jardim secreto eternamente florido
Vieste, pequena flor, e partiste antes que eu a pudesse ver
E mesmo assim tudo trouxeste
Tudo tocastes
e desde sempre todos os meus passos
trouxeram tua presença ausente
Tua ausência presente a meu lado
A minha efêmera alegria
Quanto lhe amo ainda, a cada dia
Pela promessa que fiz ao saber que virias
De onde estiver agora
Ouça-me, por amor, ouça-me
Nunca lhe abandonei, e desde que viestes e partistes
Ainda vivo "pelo direito de todos terem uma pequena casa, um jardim de frente, e uma menininha de vermelho"

terça-feira, 2 de junho de 2015

Texto pós estreia Saltimbancos Projeto CrerSer 31/10/2014

Matei trabalho hoje, estou de ressaca. Nunca senti uma ressaca tão boa, ressaca de estréia, ressaca de parto.
 Ontem o Projeto Crer-Ser apresentou um grande espetáculo. Um espetáculo de união, de valorização, de protagonização. Muito mais que o musical em si, Os Saltimbancos de Chico Buarque, ontem aconteceu algo próximo a um milagre, uma magia, uma peste diria Artaud. 
Ontem São Lourenço provou que é um celeiro de artistas adormecidos por falta de oportunidade e união.
 E foi o Chico mesmo quem disse "Todos Juntos Somos Fortes", e assim se fez. 
E esse foi o nosso lema. 
Com aproximadamente 500 espectadores num espaço de 300 lugares, claro que muita gente não conseguiu assistir, mas ouviu e sentiu a energia vibrante que encheu o lugar! Ontem foi dado um grito, um apelo, quase um feitiço... 
Minha querida cidade É PRECISO VALORIZAR NOSSA ARTE, precisamos de espaço, de fomento, de UNIÃO. 
Ontem fizemos uma REVOLUÇÃO! Cada uma das 70 pessoas (em media) envolvidas naquele ritual de passagem (porque sim, a ARTE em nossa comunidade DEBUTOU), cada criança, cada professor, cada colaborador, se transformou internamente. Havia um senso comum: todos foram protagonistas, todos foram os mais importantes. 
Aprendi que ser mais um protagonista do coletivo é muito mais legal que ser a unica, 
Aprendi que é preciso sim defender o que se acredita, mesmo quando isso não for confortável. Aprendi que transformar o coração de uma criança e ver em seus olhos o orgulho, de si mesmo, e de seu todo, brilhando estonteante, é a mais preciosa retribuição que um educador pode sonhar. Mostramos que não há diferença que separe, que não há expressão que não se una, que quando se tem amor tudo é mesmo possível. 
Hoje eu acordei de ressaca, de uma ressaca que nunca mais eu vou sentir, a ressaca do primeiro milagre!

quarta-feira, 4 de março de 2015

Pincel Palavra

Ando desenhando um poema
Um poema-homem que planta
Meu sorriso pelo pensamento

Ando colorindo um homem
Que salta do céu, espasmo de in-pulso
Com luzes que aquecem meus jorros mais íntimos

Ando versando um desenho
Como quem se esquece frente o voo de um pássaro
Como quem, do próprio ventre se pari

Poema feito de espaços
Desenho feito de letras
Afeto feito de inventados laços

Ando desenhando um poema
E não pretendo terminá-lo

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Olho o homem que amei
e digo sem reação
Porque não mais o amo?
Que fizestes oh desalmando
Com todo amor que lhe tive devotado
Pra que saísse assim de mim
Orfandando meu peito vago
nesse deserto de desilusão?
Tantas noites em vigília
Tantas velas acesas, rezas, romarias
Novenas das mais circunstanciais
Delírios absortos em futuros projetados
Fremitos desejos por tanto tempo inalterado
Violentada me torno viúva
do afeto que lhe concedi
e o vazio se instaura do arrebalde ao ser
Os dias semitonam
as tardes sem porque
e a falta que se faz não é sua
mas da minha vontade de você.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

sofro de refluxo poético
um verso me estoura a goela
e volta ácido pra dentro de mim
dutos de dores caladas
nao digeridas, incompreendidas
dores de expectativas
de saudades e desejos mórbidos
um principe sórdido
a quem devoto incoerente
patético afeto mordaz
é a força motriz
de tal ato

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Verso besta de alegria
Quando eu nao tinha entendido voce
ainda mal te conhecia
Vim pedindo um monte de coisa
que eu achava que valia
Aos poucos fui entendendo seu tempo
todo cheio de magia
e no tempo fora do tempo
era quando eu te via
E passei a descansar
sob teu riso imenso de euforia
e ja não pedia mais nada
alem de ir onde ce ia
Mas voce se acostumou
a negar o que que eu nem pedia
sem sequer se tocar
que o que a boca falava
seu olhar, de bobo encantado
desdizia 
Causaste em mim
Desde de que me pus em seus bracos
Nascente de pranto
Irrevogavel
Pranto de contentamento
Pranteio delirante
Pranteio angustiada
Pranto de esperanca
E desde entao
So me faltaste

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Desde que te vi
com os olhos da alma
Cada passo que eu dou
eu sinto sua falta
Ainda divides minha cama durante as noites
Mesmo que sem seu corpo ou sua frieza
Dormes comigo em meu pensamento
Nesse luto de amor vivo
que vivo e luto como contra 
um instante infinito
Por mais rude possas ser
entrevejo fantasiosa
num balançar de dedos
minhas maos enlaçadas às suas
E anseio a escuridao celeste
para materializar-te Dulcinéa
entre meus lençois de algodão agreste
Mais completa sou em delírio
Mais feliz quando iludida
Deixe-me ao menos
com meus concretos sentimentos
Me olhava com olhos redondos
de criança intrometida e medrosa
quando ria parece que cabia
no branco dos dentes o infinito
andava dançando e era seguido
por legioes de elementais perdidos
mas sobretudo ele sabia
antes de qualquer um no mundo
qual era o som do cometa
e reproduzia